A busca do novo Gonzaga
Álbum triplo do selo Lua Music traz 50 versões inéditas de canções do Rei do Baião e, com poucas falhas, é o melhor lançamento do gênero
Naturalmente, não dava para ter gravado tudo numa mesma cidade. Graças às facilidades da internet, o produtor pode supervisionar as gravações à distância. De São Paulo, onde mora, ele enviava, via web, os pitacos para o Rio, o Recife, João Pessoa, Nova Iorque, e São Paulo. O motivo de ter entrado na empreitada, segundo diz Thiago, foi a importância de Luiz Gonzaga na MPB. “Ele é fundamental. Gonzaga e Roberto e Erasmo são os compositores mais populares do Brasil, com maior número de sucessos. Em todo lugar se canta Gonzagão porque há nordestinos em todos os lugares do Brasil. Não teria existido Tropicália, se não existisse Luiz Gonzaga, por exemplo, uma coisa está entrelaçada na outra”, afirma.
Para ele, é uma ação também para fortalecer a música de Luiz Gonzaga, em meio a pior leva de produções de má qualidade que já houve na história da música do País, com a fuleiragem music sendo confundida com o forró.
“Acho que é como acontece no sertanejo. As pessoas apenas denominam a música com uma nomenclatura genérica. É como se diz também MPB. Tudo é MPB, uma questão mais de linguagem. No caso do forró, das bandas, acho que acontece um lance totalmente descaracterizado do forró autêntico, e que apenas leva apenas o mesmo nome. Musicalmente falando, é pobre, acho que é um reflexo do empobrecimento cultural brasileiro, que nos é mostrado todos os dias através da programação das emissoras de TV, por exemplo”, reflete Thiago.
“O Brasil se desculturalizou demais nos últimos anos, e a tendência é piorar, a não ser que aconteça um milagre. De todo modo, eu percebo que a música de qualidade não morrerá jamais, sempre haverá público. Um público menor, claro, mas sempre haverá”, pondera o produtor musical.
DISCO - O projeto 100 anos de Gonzagão ratifica em sua meia centena de faixas a universalidade da obra de Luiz Gonzaga. Começa com uma obviedade, Asa branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), com citação de A hora do adeus (Luiz Queiroga/Onildo Almeida), com Amelinha, Geraldo Azevedo, Ednardo e Anastácia, com interpretações as mais óbvias possíveis. Felizmente é uma das poucas faixas fracas do disco. Os mais afeitos ao repertório gonzaguiano são exatamente os responsáveis pelas faixas mais redundantes. Elba Ramalho, por exemplo, faz uma surpreendente interpretação burocrática para No meu pé de serra (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira).
A maioria dos veteranos está no CD 1, Sertão, em que se destacam a voz rude de Cátia de França em Vozes da seca (Gonzaga/Zé Dantas), Passoca, em Baião da garoa (Hervé Cordovil), Guadalupe e Liv Moraes, em Ave Maria Sertaneja (Júlio Ricardo/O. de Oliveira), e Gonzaga Leal, em Noite brasileiras (Zé Dantas).
Os dois outros dois CDs, Xamego e Baião, se não chegam a ser experimentais ou ousados, reinventam a música de Gonzagão, como ele próprio teria gostado de ouvir. Wanderléa incrementou de guitarra o inaugural Baião (Gonzaga/Humberto Teixeira), Karina Buhr imprime sensualidade e brejeirice a Xanduzinha (Gonzaga/Humberto Teixeira), Marina Alcina escracha em Xamego, Ylana Queiroga também sensualiza Orélia (Humberto Teixeira). Desnecessária a participação de Elke Maravilha cujo departamento é o de estrela freak, nunca cantora para prestar tributo a ninguém. Algumas interpretações limitam-se com o antológico, como a que Silvia Maria e Dalua fazem com a difícil Mangaratiba (Gonzaga/Humberto Teixeira). Pecadilhos à parte, 100 anos de Gonzagão é até aqui o melhor tributo que a obra de Lua recebeu em 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentario, agradecemos a colaboração!